Tanto se fala na dita cuja…
Encontrei ontem uma entrevista interessante… a uma grande artista (e claro, com uma grande dose de loucura).
Mariana Gillot é uma das artistas contemporâneas da nova vaga. O seu trabalho mais recente foi forrar o seu carro com moedas de um cêntimo, dois cêntimos, dez cêntimos, 50 cêntimos e um euro. Ao todo são 30 mil moedas numa obra intitulada “Crise anda sobre rodas”.
No dia 2 de Março, inaugura na Galeria Praça das Flores em Lisboa, uma exposição individual intitulada” How fatten the little pig?…”.
O que a levou a forrar o seu carro de moedas?
Este projecto vem no seguimento da minha principal temática. Neste momento, o meu trabalho centra-se numa crítica construtiva ao consumismo exagerado, à forma vendida como vivemos na nossa condição de humanos.
Junte a isto o vazio que pode transportar algo tão frio, agreste e material, como a moeda, o dinheiro. A forma como nos cega, a forma como assume o papel de um verdadeiro “delete” na parte mais importante e válida que temos, como pessoas, o nosso lado sensitivo e afectivo.
Mas deu-lhe o nome de “crise sobre rodas” …
A minha mensagem pretende alertar para a nuvem que paira sobre o mundo e o país, o sensacionalismo de ressaltar tudo o que é mau, a famosa e por vezes tão hipócrita crise! Pois será de todos, esta sonante palavra, a crise?
De onde lhe veio a inspiração?
Aconteceu de uma forma natural. Quando começo a olhar, a ver, a ouvir e a sentir, o mundo à minha volta. Se reparar, na sociedade em que vivemos, o carro é um dos símbolos de independência e uma característica comum a muitas e muitas famílias e pessoas.
E vivendo numa era cada vez mais virada para o ter como sinónimo de poder, de grandeza e de controlo, pensei neste objecto, do qual tantos já não conseguem abdicar. E que para outros é mesmo um dos seus principais objectivos de crescimento. O objecto ideal. O modelo também teve peso, na decisão por fazer parte de tantas realidades das famílias. É um carro muito vulgar.
Quantas moedas utilizou?
Cerca de 30 mil moedas.
Quanto custa a crise sobre rodas?
(risos) Custa 37.000 euros.
O facto de a crise estar sobre rodas é uma mensagem para tentarmos sair dela?
Sim, também pode ter essa interpretação. A constante lembrança e o metralhar da desgraça e da crise não pode de forma alguma ajudar um país ou um mundo inteiro a sair de uma fase complicada como esta que se atravessa . A mensagem deve ser de coragem, de esperança e acima de tudo de acreditar. Para potenciar forças, para a persistência de esforço e de luta. Tento sempre ter ironia no meu trabalho.
É uma sonhadora?
O sonho também se revela um afrodisiaco, no apaziguar da rotina diária do ser humano que vive fazendo parte deste sistema. E o dourado do carro, forrado de moedas, é a representação disso mesmo. Acima de tudo, um sorriso ajuda sempre e se esta peça arranca ou provoca alguns, para mim já valeu a pena.
O que nos reserva para a exposição que vai inaugurar “How fatten the little pig”?
Se a realidade económica inspira cuidados e está fragilidade, pelo menos para alguns, então seria produtivo, o pensar colectivo de boas e rentáveis soluções. Como engordar o pequeno porco ou mealheiro, como pôr mais e melhor comida na mesa? Deixo-os a pensar estendendo o convite de aparecerem!
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Adorei esta entrevista…. e o carro! 😀
Muto obrigado pela sua atenção e pelo simpático blog . Esta entrevista é da Jornalista Teresa Cotrim .
Fico feliz que o meu trabalho consiga tocar tanta gente!!!!
Mariana Gillot
De nada 😀
É sempre, com muito gosto, que divulgo tudo o que seja digno de ser “espalhado” por este Mundo que é a Internet. 🙂